“Pelos depoimentos que foram prestados aqui hoje, acredito que vocês nunca viram tanta gente boa reunidas na cena de um crime”,disse o advogado de defesa Dr. Paulo Prestes se dirigindo ao Conselho de Sentença, durante o Tribunal do Júri ontem, 22, no Fórum de nossa cidade.
O Conselho de Sentença formado por seis homens e uma mulher – presidido pelo Juíz Dr. Hugo Michelin Júnior, tendo como assistente de acusação a jovem Promotora de Justiça Dra. Dalva Marin Medeiros e como advogado de defesa, Dr. Paulo Prestes, condenou Luiz Carlos Giasson a oito anos de reclusão, pela tentativa de homicídio ocorrida no dia 02 de abril de 2013, na Av. Iguaçu, ao lado da antiga Cantina da Ana.
“Meu cliente era réu confesso e fico feliz em conseguir derrubar duas das quatro qualificadoras solicitadas pela acusação – o que fez com que sua pena fosse reduzida drasticamente”, explicava Paulo Prestes aos familiares do réu, ressaltando ainda que em virtude do mesmo se encontrar preso há dois anos e 22 dias – e tratando-se de réu primário, em breve deverá cumprir o restante da pena em liberdade, tendo em vista que praticamente já cumpriu 1/6 da pena.
A Promotora de Justiça, Dra. Dalva Marin Medeiros, lembrou ao jovem Conselho de Jurados que a função do Ministério Público não é condenar quem quer que seja, mas sim, fazer Justiça e proteger a sociedade como um todo. “Nossa função é proteger a vida... e nos perguntamos todos os dias – por que se mata – por que alguém tenta matar alguém?”, ressaltou, conclamando a atenção de todos para este cenário que faz parte da vida real – “vida versos droga, vida versos crimes, vida...”.
O CRIME, AS TESTEMUNHAS E OS DEPOIMENTOS:
Fiz questão de acompanhar na íntegra esse julgamento, sentado ao lado da mãe, da irmã e do pai do réu... Por aquelas coincidências do destino, Luiz Carlos Giasson, é meu sobrinho – e a exemplo dos seus irmãos, pela educação recebida de berço, todas as vezes que o encontrei, com aquele sorriso maravilhoso, próprio das crianças - com as duas mãos postas, ele me pedia a benção. Ou seja, repetia sempre aquele velho costume que as famílias tradicionais passam de pai para filho.
Ontem, no final do julgamento, pedi ao Paulo Prestes que solicitasse ao Meritíssimo Juiz cinco minutos para que os familiares pudessem cumprimentar o réu. E novamente, com as duas mãos postas, mas sem o habitual sorriso, ele disse: “Benção tio...”.
Confesso que não me contive. Tive que fazer um esforço danado para não chorar... Mecanicamente, respondi: “Que Deus te Abençoe...”, mas minha intenção era de dizer-lhe muito mais... explicar que ninguém pode fazer nada por ele, se ele próprio, não tomar a iniciativa de usar para o bem tudo o que recebeu desse próprio Ser Superior, que é ou tem acesso ao Poder de Deus, no dia em que nasceu...
Acredito que nem na sua própria família, nem na escola, nunca ninguém disse a ele, o que o Mestre nos ensinou: “...um bebê recém-nascido é como um Facho de Luz – e com o passar dos anos, ao crescer, ao fazer parte do rebanho, vai perdendo a sua própria individualidade e a própria luz que lhe foi concebida no momento do nascimento, vai se apagando...
O QUE ESTÁ ACONTECENDO?
Nesse julgamento, o que podemos ver é que estamos colocando na masmorra, arrastando para encarceramento, o maior patrimônio de um país – a nossa juventude... Quem está por trás desse controle?
Por que a sociedade como um todo não pára pra pensar por que estamos deixando que uns poucos controle as nossas mentes e transformem um país rico e produtivo como o nosso numa verdadeira indústria do crime? Onde marginais, como aconteceu recentemente no julgamento do Fernandinho Beirar Mar no Rio de Janeiro, são tratados como celebridades? Para quem que eles estão dando lucro?
Por que não combater o problema das drogas com inteligência e eficiência na base? Por que estamos gastando milhões e milhões de reais para construir presídios e tratando os nossos professores, a classe culta, a classe pensante com balas de borrachas, gás de pimenta e bombas de efeito moral?
E DE QUEM É A CULPA?
Volto a frisar... de todos, absolutamente de todos... Nesse caso em particular, dois dias antes deste crime acontecer, sua mãe (minha irmã), me procurou dizendo: “estiveram ontem lá em casa, dois sujeitos dizendo que iriam levar o Luiz Carlos para trabalhar como pintor na cidade. E o Luiz Carlos chorando, me disse: “eu não quero ir – eles estão aprontando alguma coisa para mim”.
E quem são esses dois sujeitos que estiveram lá, três dias antes do crime? Um foi morto (Robson Poli), dias depois dessa tentativa de crime acontecer – e o outro, estava presente ontem, dando o seu depoimento como testemunha, por ter abrigado em sua casa, inclusive no dia do crime, Luiz Carlos e Jéssica Colodel.
Por que cito isto? É que o cenário é perfeito para um filme de dramaturgia da vida real envolvendo o que a promotora citou – “vida x crimes, vida x drogas...”. A indústria do Crime – cuja matéria prima é a droga e a mentalidade de rebanho que transformou os nossos jovens...
É por essas e outras que o que vemos hoje no centro do noticiário, tanto a nível local, regional, estadual e nacional é a figura central das forças de repressão – o braço armado do Estado dizendo que está trabalhando e combatendo o crime, apreendendo drogas, mandando para cadeia e matando grande parte da nossa juventude...
O QUE ESTAMOS ENSINANDO EM NOSSAS ESCOLAS...
Além da juventude desses envolvidos nesta tentativa de homicídio, o que mais me chamou a atenção foi o baixo grau de escolaridade deles todos... Luiz Carlos, o réu, foi à escola até a sexta-série... Perguntei, a sua irmã que estava ao meu lado, hoje com 28 anos de idade, por que ele parecia ser uma pessoa tão fria e por que deixou a escola... O que ela, me disse choca, por envolver a falta de harmonia familiar...
A figura central, desse episódio Jéssica Colodel – (testemunha nesse processo) muito linda, por sinal, hoje com 19 anos, mãe de uma filha com dois anos e meio, por exemplo, na época tinha 15 – e segundo relato de sua mãe, deixou a escola na 5ª série aos 13 anos de idade... Depois do crime, já deu quatro depoimentos e todos os quatro diferentes e hoje com 19 anos de idade, presa por homicídio, tem um prontuário capaz de deixar Fernandinho Beirar Mar e Cia., preocupados...
Mesmo estando com algemas nas mãos e nos pés, entrou no Tribunal do Júri, com a postura e a altivez de uma Miss Universo em cima de um salto 15... Ou seja, intimamente, deixou transparecer que se orgulha de fazer parte desse mundo deprimente e inconseqüente em que se encontra...
A vítima, hoje com 17 anos, que na época levou pelo menos 15 facadas, também se encontra detida envolvida com o tráfico de drogas... E no dia do crime, segundo o seu próprio depoimento, tinha saído de casa para ir ao Colégio Nestor onde cursava a 6º série... Pelas seqüelas sofridas na época, seus intestinos não funcionam e hoje usa uma bolsa ao lado – e segundo ela, necessita de uma nova cirurgia para correção...
E A EDUCAÇÃO... – ONDE É QUE FICA?
Luiz Carlos cursou até a 5ª série em Cascavel... Jéssica e a vitima estudavam no Colégio Nestor... Será que os professores da Jéssica até hoje notaram a sua falta em sala de aula?
Será que algum professor já a visitou no presídio e olhou para os seus olhos e tentou descobrir o que se passa por detrás daqueles olhos lindos e de toda aquela altivez que ela demonstra mesmo estando pisando na lama e comendo o pão que “o diabo amassou”, como se diz na gíria?
Por envolver jovens do próprio Colégio, o Tribunal do Júri, que, aliás, é uma aula de Cidadania e Respeito aos Direitos da Pessoa Humana, não deveria estar lotado neste dia, principalmente pelos jovens que são considerados problema no dia a dia na Escola?
Volto a esse assunto numa outra oportunidade...
João Maria Teixeira da Silva