Revista Fórum – Por Glauco Faria,
O Conselho Norueguês da Paz anunciou o cancelamento da sua tradicional procissão de tochas, evento anual que celebra o laureado com o Prêmio Nobel da Paz. A decisão, segundo a entidade, foi o resultado de um processo de consulta com as 17 organizações que integram o colegiado e que representam cerca de 15 mil ativistas.
"Durante o processo de consulta, ficou claro que nossas organizações-membro não consideram que o vencedor do Prêmio da Paz deste ano esteja alinhado com os valores do Conselho Norueguês da Paz ou de nossas organizações-membro. Como organização guarda-chuva, é crucial que nossos eventos reflitam esses valores", diz o comunicado da entidade, referindo-se à escolha da líder da oposição na Venezuela, María Corina Machado.
A presidenta do conselho, Eline H. Lorentzen, falou sobre a medida. “Esta é uma decisão difícil, mas necessária”, afirmou. “Temos grande respeito pelo Comitê Nobel e pelo Prêmio Nobel da Paz como instituição, mas, como organização, também devemos ser fiéis aos nossos próprios princípios e ao amplo movimento pela paz que representamos. Estamos ansiosos para celebrar o Prêmio Nobel da Paz novamente nos próximos anos”.
O comunicado aponta ainda que o órgão "continuará seu trabalho pela paz, desarmamento, diálogo e resolução de conflitos por meio de métodos não violentos e espera destacar futuros prêmios da paz que reflitam esses valores".
Contestação a Corina Machado
O Conselho não participa formalmente da composição do comitê que decide o prêmio, já que a atribuição do Prêmio Nobel da Paz é competência da Norwegian Nobel Committee, escolhida pelo Parlamento norueguês, conforme o testamento de Alfred Nobel.
Uma das organizações que fazem parte do órgão é a Iniciativa Antiguerra, que também se manifestou em seu site oficial, destacando que aconselhou o colegiado a não realizar a procissão de tochas. Em um comunicado, a entidade contesta a justificativa do Comitê Nobel para conceder a Maria Corina Machado o Prêmio da Paz, alegadamente "por seu trabalho incansável para garantir os direitos democráticos do povo da Venezuela e por sua luta por uma transição justa e pacífica da ditadura para o governo popular".
"No entanto, a realidade de Machado é bem diferente: ela apoia e acolhe uma intervenção militar dos EUA em seu próprio país para remover o presidente em exercício; ela foi ativa na tentativa de golpe apoiada pelos EUA na Venezuela em 2002 e 2019, e ela apoia o bombardeio ilegal de barcos na Venezuela pelos EUA, que matou dezenas de pessoas até agora. Não há evidências de que esses barcos transportassem drogas ou que fossem uma ameaça militar aos EUA", diz o texto assinado por Nikolai Østgaard, do Comitê de Trabalho da Iniciativa Antiguerra.
O texto segue, afirmando que Corina Machado "apoiou dois ataques de Israel e dos Estados Unidos ao Irã que violam o direito internacional. Além de ser uma firme apoiadora de Trump, a quem dedicou o prêmio da paz, ela colabora com a aliança racista e extremista de direita Patriots for Europe (PfE) no Parlamento Europeu". A referência feita é ao grupo político de extrema direita no Parlamento Europeu que se descreve com ideologias de soberanismo, euroceticismo e conservadorismo nacional.