Quando alguém erra, reconhece o erro e pede desculpa, a primeira reação que se tem é o reconhecimento de que aquilo de alguma forma contribuiu para a sua evolução como ser humano – afinal, todas as pessoas cometem erros na vida...
O problema é quando isso acontece com alguém que por dois anos consecutivos foi presidente de um Legislativo Municipal e cometeu uma série de falcatruas com provas materiais robustas e mesmo assim, a sua reação é de deboche...
Numa sessão Legislativa em que o público lotou a Casa para ver o julgamento de um Pedido de Cassação do seu mandato por Improbidade Administrativa, ou seja, por corrupção e prevaricação, ele entrou rindo na sessão, gozou da cara de todos e nas entrelinhas deixou claro: “o povo, a ética e a moral que se danem – temos a maioria e o nosso cobertor embora não seja virtuoso, nos permite sorrir, brincar e abusar desses otários que ainda acreditam que a voz do povo, é a voz de Deus...”
E por que fez isso?
Muito antes de vir para a sessão, ele já tinha a garantia de seus pares de que o crime compensa, de que moral e bons costumes soam bem quando se tem que pedir o voto do eleitor – mas, na prática diária isso é coisa para otário – “quanto mais vantagem levar, quanto mais açúcar comprar, quanto mais carros abastecer, quanto mais diárias fizer, quanto mais conseguir aumentar o seu patrimônio pessoal melhor será para se perpetuar no poder”.
Ele não disse isso em palavras, mas a sua atitude e o seu comportamento perante aquela Casa de Leis, ontem (20), traduz esse pensamento. Ele entrou para presidir a Sessão, por um corredor onde estava a sua tropa de choque colocada ali estrategicamente para aplaudir a sua falta de postura, com um sorriso triunfal no rosto, como se estivesse comemorando o recebimento de um prêmio por ter feito algo virtuoso e de grande valor para a humanidade...
Só ao entrar dessa maneira na sessão, deveria receber de seus pares um tremendo puxão de orelha. Mas nada disso aconteceu e ciente de que pode fazer e desfazer que nada vai lhe acontecer, tendo em vista que os seus aliados, a exemplo do Cunha no Congresso e no Senado, são cúmplices diretos e indiretos das suas malandragens, ele foi ainda mais longe.
Com a Casa cheia, ao invés de pedir desculpa e parabenizar o cidadão Sãomiguelense Volmer Roberto Tshinkel pela sua coragem e ousadia em colocar em prática o seu livre exercício de cidadania, que, aliás, todo cidadão consciente deveria fazer acompanhando e fiscalizando os seus representantes – ele fez uma inversão de valores atacando o proponente desta Ação...
“O que me causa estranheza e isso só acontece aqui em São Miguel, é que esses que estão pedindo a minha cassação, são os mesmo que fizeram um abaixo assinado para redução do salário dos vereadores... Por que não fazem o mesmo e não pede a cassação daquele vereador que está preso e condenado...”, lamentou.
Boa parte dos que estavam na sessão, por respeito à Instituição não gritaram, mas olharam um para o outro e baixinho murmuraram: “Esse vereador que você está falando pode até ter cometido erros na sua vida particular sim, mas nesse parlamento ele foi combativo, não roubou e nem prevaricou e foi sim, um belo exemplo de legislador e soube honrar os votos que recebeu...”
“Eu tenho ciência de que sou um perseguido. Mas na política é assim mesmo, aqueles que se destacam nesta cidade são atacados pelos mesmos de sempre”, tendo ainda a coragem de olhar para cima e cometer a blasfêmia das blasfêmias invocando o nome de Deus para ajudá-lo a limpar toda a sujeira que vem cometendo no exercício do seu mandato – “Existe um Deus que não dorme e sabe o que eu estou fazendo...”, concluiu.

E quando ele fez isso?
Ele fez esse ataque ao proponente dessa Ação, momentos antes de passar o cargo ao seu vice, o vereador Elton Somavila, que em seguida começou o Processo de Votação pelo arquivamento ou não deste Pedido de Cassação. E o pior dos piores, é ver que esse seu comportamento está fazendo escola e arrastando para a mesma vala grande parte dos seus pares naquela Casa de Leis...
Por cinco votos a três o pedido foi arquivado. Votaram pelo arquivamento do Pedido os vereadores Inésio Civiero (PR), Francisco Machado Mota, o Chico Bariátrico (PS), Marcos Murbak (PS), Elton Somavila (PR) e Martinho Martinhago (PSDB).
Votaram a favor do pedido de Abertura do Processo de Cassação, Raulique Farias (PMDB), Nilton Wernke, o popular Menino (PPS) e Cleonice Maldaner, a popular Nega da Aurora (PHS).
Logo após a contagem dos votos, usando do seu direito Constitucional de poder se pronunciar sobre matéria da sessão, a vereador Cleonice Maldaner pediu ao presidente para fazer uso da palavra.
Contrariando a Lei, ele encerrou de imediato a sessão e não lhe concedeu a palavra, levantando sem seguida como se estivesse fugindo de algum perigo eminente. Mesmo assim, com coragem e altivez a vereadora continuou protestando, enquanto o moleque fujão olhava atônito para traz o eco da sua própria ação desmoralizadora... A Vereadora foi aplaudida por boa parte do plenário que se encontrava lotado...
“Confesso que a minha vontade é entrar com um Projeto de Lei solicitando o fechamento imediato desta Casa de Lei. Veja o mal que isso aqui está fazendo para a nossa cidade”, desabafava coberta de razão, a vereadora.
Volmer Robero Tschinkel, por sua vez, nos dizia que estava ciente de que fez o que a sua consciência lhe ordenou. “Qualquer cidadão pode fazer o que eu fiz. Vou consultar e me aprofundar ainda mais na legislação vigente e ainda essa semana devo entrar com um pedido de anulação desta sessão no Ministério Público”, nos confidenciava Tshinkel.
Um dos motivos apresentados por Tshinkel para esse pedido foi que não foi lido nesta sessão o conteúdo das quatorze páginas contendo e esclarecendo os crimes que foram cometidos pelo vereador que faz parte do Pedido de Cassação.
“Ele não só desrespeitou a Lei, mas desrespeito principalmente o público que nem se quer conseguiu tomar conhecimento do conteúdo deste Pedido de Cassação”, pontificou Volmer.