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FUTEBOL E ORGULHO NACIONAL
  Data/Hora: 8.mai.2014 - 18h 29 - Categoria: Esporte  
 
 
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Fonte: Blog Tribuna da Imprensa - Via Le Monde Diplomatique Brasil -

Se a adesão que o F.C. Barcelona recebe na Catalunha é enorme, isso se deve ao fato de ser “mais que um clube”, segundo a fórmula criada em 1968, em pleno regime franquista. Se o futebol desperta imenso interesse em quase todo mundo, é por ser mais que um jogo. Se a Copa do Mundo provoca, de quatro em quatro anos, entusiasmo mesmo em quem não acompanha cotidianamente o futebol, é porque ela não é apenas uma disputa esportiva. Sua história é, em certo sentido, a história do mundo contemporâneo.

Por exemplo, as Copas do Mundo corporificam o orgulho nacional. A primeira edição foi organizada em 1930 pelo Uruguai para festejar o centenário de sua independência. No dia da partida decisiva de 1934, o importante jornal italiano Corriere della sera escreveu que hoje “seremos invadidos pela divina paixão que inevitavelmente está em tudo o que é nosso, em tudo que tem a marca da nossa raça”. Em 1954, a Alemanha, debilitada material e moralmente pela Segunda Guerra Mundial, recuperou o amor-próprio e o respeito internacional graças à inesperada conquista da Copa. O mesmo evento, em 2006, permitiu a esse país manifestações patrióticas até então evitadas devido ao sentimento de culpa pelo passado nazista. Em 1986, Maradona reconheceu que a partida contra os ingleses era bem mais que futebol, era revanche pela derrota na guerra das Malvinas, alguns anos antes.

Nas Copas do Mundo emergem diversas rivalidades. Em 1930, o consulado uruguaio em Buenos Aires foi atacado por uma multidão inconformada com a derrota para o país vizinho. Em 1938, a partida entre Áustria e Hungria foi uma verdadeira batalha, refletindo as tensões não resolvidas das longas décadas em que as duas nações tinham vivido politicamente unidas e culturalmente afastadas. Em 1950, a Argentina recusou participar da Copa simplesmente porque ela ocorreria no Brasil. Em 1974, a seleção alemã foi vaiada em Hamburgo porque nela havia muitos jogadores do Bayern de Munique; quatro dias depois, porém, o público da mesma cidade apoiou com fervor o time diante dos irmãos inimigos da Alemanha Comunista.

Governos de todas as colorações políticas sempre depositam muitas expectativas nas Copas. O famoso telegrama que Mussolini enviou aos jogadores italianos antes da final de 1938 nada tinha de ambíguo: “vencer ou morrer”. João Goulart explicou à delegação que se dirigia ao Chile, em 1962, que a Copa do Mundo “faz os brasileiros esquecerem nossas dificuldades econômicas, e assim é mais preciosa que o arroz”. A ditadura militar acompanhou de perto a preparação para a Copa de 1970, esperando dividendos políticos do tricampeonato. O mesmo interesse foi dedicado pelos militares argentinos à organização da Copa de 1978. Mas o uso político de Copas do Mundo não é exclusividade de países sem tradição democrática. Na França de 1998 tanto o presidente direitista quanto o primeiro-ministro socialista esperavam que a Copa amenizasse a “fratura social”. Também movimentos não governamentais tentaram utilizar-se do prestígio da competição. Em fins de 1977 foi lançado, por meio do Le Monde, um movimento de boicote à Copa na Argentina para pressionar sua ditadura militar.

Um grande fenômeno socioeconômico, a crescente circulação mundial de trabalhadores, está sintetizado nas Copas. Algumas vezes por razões políticas: em 1938 a Áustria, que acabava de ser anexada pela Alemanha nazista, foi obrigada a ceder nove jogadores à seleção alemã; o húngaro Puskas, que tinha jogado a Copa de 1954 por sua seleção nacional, depois de exilado participou da de 1962 pela Espanha. Mas foi geralmente por razões econômicas que vários atletas defenderam mais de uma seleção. O argentino Luis Monti participou com seu país da Copa de 1930 e da de 1934 com a Itália de seus antepassados. A partir de 1962 a FIFA impediu atletas de representarem mais de uma seleção, mas não de jogarem por outro país que o de nascimento (em 2006 havia cinco brasileiros em outros times). Para os técnicos, a migração é livre, desde o inglês George Kimpton, que dirigiu a França em 1934, até os casos expressivos do sérvio Bora Milutinovic, que já treinou as seleções do México (1986), Costa Rica (1990), Estados Unidos (1994), Nigéria (1998) e China (2002); ou do brasileiro Carlos Alberto Parreira, que esteve à frente de Kuwait (1982), Emirados Árabes (1990), Brasil (1994 e 2006), Arábia Saudita (1998) e África do Sul (2010). 

Interesses geopoliticos
 

As Copas do Mundo são ainda rico observatório de procedimentos culturais. Em 1938, o goleiro das Índias Holandesas Orientais, futura Indonésia, pretendeu proteger seu gol do ataque húngaro amarrando na rede uma boneca como amuleto, procedimento mágico que não teve sucesso: os europeus venceram por 6 a 0. Como parte do equipamento que a Escócia levou para a Copa da Argentina estavam 456 garrafas de uísque. Na Espanha, em 1982, a seleção do Kuwait queria antes da partida de estreia que sua mascote, um dromedário, desse uma volta em torno do campo. Na mesma Copa, a partida Peru e Camarões foi mais uma disputa entre feiticeiros do que entre jogadores. Devido ao gol contra que eliminou a seleção colombiana da competição nos Estados Unidos, o zagueiro Escobar foi assassinado alguns dias depois de ter retornado ao seu país.

As Copas do Mundo exprimem interesses geopolíticos, daí o número de países participantes ter oscilado de 13 logo após a Depressão (1930) para 16 em 1934, 15 no pré-Guerra (1938), 13 no pós-Guerra (1950). Entre 1954 e 1978 a fixidez do mapa da Guerra Fria estabilizou a quantia em 16. A posteriori expansão da Comunidade Europeia e ao fim da Cortina de Ferro correspondeu o alargamento do mundo futebolístico, com 24 países presentes entre 1982 e 1994 e 32 a partir de 1998. Por muito tempo a Copa, como o mundo, foi exclusividade europeia e americana. Se no contexto colonialista de 1934 havia um país africano, no contexto da descolonização o continente ficou de fora das seis Copas seguintes. Mas graças aos interesses da crescente globalização, a África, a partir de 1982, contou com duas seleções, em 1994 com três, desde 1998 com cinco. A Ásia compareceu em 1938, esteve presente em cinco das oito Copas realizadas entre 1954 e 1982, mas a partir de 1986 ganhou duas vagas fixas, que subiram para quatro desde 1998.

O Brasil com sua paixão pelo futebol não poderia escapar à lógica histórica das Copas. Cada uma delas parece despertar o fraco sentimento nacional. Tanto o populismo de esquerda de Goulart celebrou em 1962 “a vitória da nação”, quanto a ditadura militar de direita procurou em 1970 associar-se ao tricampeonato. Os jogadores brasileiros nunca são simplesmente selecionados, como na maioria dos países, e sim “convocados” a servir a pátria. Como Dunga definiu na recente entrevista coletiva na qual anunciou o grupo para a próxima Copa, ali “vamos sofrer, vamos sangrar”. Nessa missão os jogadores “estão preparados para se doar e vencer pelo país”, pois “cada um que está aqui tem que ser patriota”. De maneira coerente, Dunga não se define como especialista em futebol (técnico ou treinador) e sim como “comandante da seleção”. Enquanto os italianos torcem pela Azzurra, os franceses pelos Bleus, os ingleses pelo English Team, os alemães pela Nationalmannschaft, os brasileiros torcem pelo Brasil. Ou seja, fazemos pequena distinção entre a seleção de futebol e o país. A vitória ou derrota de um parece ser a do outro. O auxiliar-técnico Jorginho explicitou tal concepção na mesma entrevista – a “seleção brasileira é nossa pátria”. O país é visto como um bloco único no qual não apenas o atleta deve ser patriota, todo cidadão também é de certa forma convocado: “peço que o torcedor goste do nosso país”, conclamou o comandante.

Enfim, para quem deseja não ser apenas sujeito da história, mas também agente, a Copa que se aproxima pode servir não somente para torcer como também para pensar o mundo em que vivemos. 

 

*Texto de Hilário Franco Júnior, professor da USP

 

 

 
 

 

 

 
 
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