No mês em que é celebrado o Dia da Psicologia, comemorado em 27 de agosto, o Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) lança a campanha “Psicoterapia é com regulamentação”, destacando a importância de uma prática humanizada orientada por ética, formação qualificada e direitos humanos. A data, oficialmente instituída em 2016, refere-se à publicação da Lei 4.119/1962, que regulamentou a Psicologia brasileira.
A iniciativa dialoga com debates atuais sobre o impacto da inteligência artificial (IA) na saúde mental e alerta: embora novas tecnologias possam ser aliadas, elas não substituem o cuidado humano, ético e regulamentado oferecido por profissionais habilitados. No cenário da popularização do uso de plataformas digitais para realizar, o que algumas pessoas chamam de, “terapia com IA”, a psicóloga Nádia Giacomazzi Silva (CRP-08/24085), integrante da Comissão de Psicologia Clínica do CRP-PR, alerta que “quando falamos em atendimentos feitos por plataformas de IA é importante ter clareza: isso não é psicoterapia.” A psicóloga complementa que faltam elementos essenciais que fazem parte do processo terapêutico — como a escuta qualificada, o vínculo humano, o manejo ético do sofrimento, a elaboração psíquica, o uso de técnicas apropriadas e, acima de tudo, a relação com um outro que nos ajude a olhar para aquilo que, muitas vezes, não conseguimos acessar sozinhos.
PSICOTERAPIA É COM REGULAMENTAÇÃO
Preocupado com esse panorama, o CRP-PR chama a atenção, por meio da campanha, para a necessidade da valorização da psicoterapia conduzida por pessoas regulamentadas, como é o caso de profissionais da Psicologia e da Psiquiatria. A psicóloga Nádia ressalta que é importante reforçar que a psicoterapia não se trata apenas de uma conversa ou de um “conselho bem-intencionado”. “A atuação do psicólogo nessa área é fruto de anos de estudo, pesquisa e prática fundamentada em evidências científicas. A escuta psicológica é profundamente ética e respeita a singularidade de cada pessoa — porque ninguém é igual a ninguém. Cada história é única, e é a partir desse olhar que o vínculo terapêutico é construído,” ela explica.
A Psicologia Clínica não trabalha com fórmulas prontas ou generalizações. Nádia esclarece que o que guia o processo é a escuta atenta, o cuidado com o sofrimento e a compreensão de que cada pessoa tem seu próprio tempo, caminhos e formas de existir. Dessa forma, ela alerta para a importância de procurar profissionais regulamentados, com formação adequada e compromisso ético. Além disso, complementa que “quando uma prática não é regulamentada, não há fiscalização. Isso significa que não existe nenhuma garantia de que a pessoa que se apresenta como terapeuta tem o preparo necessário para lidar com questões delicadas — como identificar sinais sutis de transtornos, manejar sofrimento intenso ou sustentar um processo seguro de transformação.”
Sem uma prática adequada e executada por um profissional regulamentado, a psicóloga adverte que há o risco de confundir sintomas importantes com traços da personalidade, atrasando um tratamento adequado ou, até mesmo, agravando o sofrimento. Somado a isso, a ausência de regulamentação deixa a pessoa desprotegida: não há a quem recorrer em casos de negligência, má conduta, abuso de poder ou quebra de sigilo. Ao buscar um profissional qualificado e devidamente regulamentado, a pessoa garante um cuidado que é amparado por diretrizes éticas, por um conselho fiscalizador, como é o caso do CRP-PR, e por um olhar atento à singularidade de cada sujeito.
Além da importância da regulamentação na Psicoterapia, a campanha do CRP-PR também se desdobra em outros lemas que reforçam os pilares da prática. A Psicoterapia deve ser realizada com ética, por profissionais com regulamentação, com base nos direitos humanos, com políticas públicas, com foco em práticas antirracistas e por meio de relações humanas. Dessa forma, o Conselho convida a sociedade a refletir sobre os riscos de confiar a sua saúde mental a práticas sem regulamentação e a importância de buscar profissionais qualificados, que atuam com compromisso ético, humano e técnico.

FERRAMENTAS DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Embora as ferramentas de inteligência artificial, como o ChatGPT ou o Gemini, possam ser úteis para oferecer informações pontuais ou auxiliar em processos educativos, o CRP-PR reforça que elas não têm a capacidade de compreender a complexidade emocional e social de um ser humano nem de conduzir um processo terapêutico seguro e ético. Desse modo, reduzir a psicoterapia a uma interação com uma máquina pode colocar em risco a saúde mental das pessoas e banalizar o cuidado psicológico, que deve ser conduzido por profissionais preparados para lidar com as nuances subjetivas de cada indivíduo, respeitando princípios éticos, técnicos e legais.
O Conselho Federal de Psicologia (CFP), em articulação com os Conselhos Regionais, tem atuado ativamente junto ao legislativo e à sociedade para garantir que a prática da psicoterapia seja reconhecida como uma atribuição privativa da Psicologia e da Psiquiatria. Já em relação à inteligência artificial, em julho, o CFP publicou uma nota de posicionamento sobre os impactos e desafios da IA para o exercício da Psicologia. O documento aborda a integração da IA na prática psicológica e ressalta a necessidade de uma abordagem ética e crítica por profissionais da área. “É atribuição legítima e dever do CFP posicionar-se diante do uso crescente da IA, em contextos que possam impactar de alguma forma o exercício profissional, propondo assim diretrizes e critérios éticos para a sua adoção. Não se trata de negar o avanço tecnológico, mas de garantir que sua implementação esteja alinhada aos princípios que orientam a Psicologia”, afirma o Conselho Federal de Psicologia.

SOBRE O CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DO PARANÁ
O Conselho Regional de Psicologia do Paraná (8ª Região) é uma autarquia, isto é, uma entidade autônoma, auxiliar e descentralizada, da administração pública que possui a função de “orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de psicólogo e zelar pela fiel observância dos princípios de ética e disciplina da classe”, de acordo com o estabelecido na Lei Federal nº 5.766, de 20 de dezembro de 1971. O CRP-PR é o órgão que zela pelo desenvolvimento das funções da Psicologia, cabendo-lhe estimular e fortalecer a relação entre Conselho, Pessoas Psicólogas e sociedade, formando, assim, uma rede comprometida com a cidadania, a solidariedade, a justiça e a saúde mental.
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Karen Sailer Kletemberg
Assessora de Imprensa | Jornalista (12404/PR)
